28 de jan. de 2010

A formação do território

A FORMAÇÃO TERRITORIAL DE BOTUCATU

Quando os colonizadores adentraram o "sertão paulista" rumo ao noroeste, depararam com os indígenas Caingangue, na região onde hoje está assentado o município de Botucatu. Apelidados pelo homem branco de Coroado (devido ao corte de cabelo que usavam, que dava a aparência de uma coroa), foram ferozes defensores da terra, travando embates violentos com os habitantes da Vila de Botucatu e cercanias em meados do século XIX. No passado, coube à grande parte dos indígenas a escravidão e o extermínio impostos pelos bandeirantes, mas muitos foram catequizados e aculturados pela Companhia de Jesus.
A ocupação do território na região de Botucatu começa efetivamente com o estabeleci¬mento das fazendas de gado jesuíticas denominadas Guareí e Botucatu, por volta de 1720. Com o crescimento da exploração de ouro em Mato Grosso, essas fazendas serviram de paragem para as tropas de muares que rumavam em direção às minas de Cuiabá.
A iniciativa jesuítica é considerada pioneira na fixação do povoamento nesta parte do sertão paulista. Segundo o historiador João Carlos Figueroa, as fazendas ganharam impor¬tância " ... pelo seu papel no desenvolvimento econômico da região, que por esse tempo era considerada fronteira de ocupação".
Com a expulsão dos jesuítas do Brasil, engendrada pelo marquês de Pombal em 1759, a economia paulista entra em declínio - a ausência dos catequistas, força motora e em¬preendedora da economia paulista, faz a expansão territorial enfraquecer.
Em 1771, com a abertura de um novo caminho entre Sorocaba e o Forte iguatemi (Paraná), passando necessariamente pela Serra de Botucatu, a região ficou conhecida como Campo do Paiol, um ponto estratégico para os tropeiros e suas tropas de muares. Essa condição de pouso de tropeiros foi cada vez mais se intensificando pela expansão do plantio da cana-de-açúcar.

Por volta de 1830 é iniciada a ocupação das terras do alto da Serra de Botucatu (na épo¬ca conhecida como Serra de Santo Ignácio), onde outrora existia uma antiga fazenda jesuítica. A ocupação foi feita através da prática da agricultura e da criação de gado e em 1835 a popu¬lação já era de aproximadamente 345 habitantes.
Diante do crescimento populacional e atendendo aos anseios dos habitantes desse pro¬missor povoado, o Governo Provincial paulista cria, em 1846, através da Lei n° 283, a fre¬guesia Sant'anna de Botucatu ou a freguesia do distrito de Cimo da Serra de Botucatu, ligada ao município de Itapetininga.
Menos de uma década depois, em 1855, o Governo Provincial eleva a freguesia de Botucatu à condição de vila, desmembrando-a de Itapetininga. A partir daí, Botucatu passa a ter certa autonomia na província de São Paulo.
Entre 1857 e 1859 definiram-se as fronteiras de Botucatu da seguinte forma:
• ao norte - tinha como limite natural o Rio Tietê;
• ao sul - fazia limite com a Vila de Tatuí e a Vila de Itapeva da Faxina;
• ao leste - limitada pela cidade de Porto Feliz;

• a oeste - uma ampla área (o noroeste paulista) limitada pelo Rio Paraná, na divisa do atual Estado de Mato Grosso do Sul, e pelo Rio Paranapanema, na divisa do atual Estado do Paraná.
Observação: entre 1865 e 1959 Botucatu passou por vários desmembramentos territoriais (ver p. 45).
Em 1860 surgem as primeiras fazendas cafeicultoras em Botucatu. Elas e suas ativida¬des trouxeram desenvolvimento econômico e crescimento populacional sem precedentes ao município. Antes disso, além dos pequenos plantios de café localizados no alto da Serra de Botucatu, a base econômica resumia-se a poucos currais de muares e à agricultura de subsistência de milho e mandioca.
Com o café logo chega a ferrovia, meio de transporte ideal e "oficial" para escoar a rica produção cafeeira para o mundo, através do Porto de Santos. Nesse momento, o plantio do café dominava a maior parte das terras agrícolas da província de São Paulo.
Botucatu participa, portanto, da fase econômica brasileira conhecida como Ciclo do Café, e testemunha o surgimento dos barões do café e da elite cafeicultora, bem como o cresci¬mento urbano e populacional, expandindo e remodelando a cidade. Havia necessidade de milhares de trabalhadores para construir, fazer a manutenção e operar as ferrovias (Estrada de Ferro Sorocabana e Companhia Ituana de Estradas de Ferro), erguer novas casas, rasgar novas ruas, conservar os serviços públicos e mantê-los em funcionamento, entre outros. Com isso, Botucatu passa por profundas transformações estruturais ao longo desse período.
Contudo, a crise econômica mundial de 1929 abateu substancialmente os produtores de café. Sem ter para quem vender o produto, os cafeicultores abandonam ou vendem suas propriedades, criando uma massa de trabalhadores rurais sem emprego. As ferrovias não têm o que transportar e definham. O interior paulista entra em estagnação econômica e parte da população migra para os grandes centros urbanos, onde o surto industrial alavanca o mer¬cado de trabalho.
A geografia agrária se modifica. Muitos ficaram, agora com as grandes propriedades rurais fragmentadas; alguns insistiram no plantio do café e do algodão. Porém a pecuária foi a atividade econômica que aos poucos reergueu o município de Botucatu, entre 1940 a 1970.

Em 1973, o Governo Federal implanta o Programa Nacional do Álcool, o Proálcool, cujo - devido à crise do petróleo - era a substituição da gasolina automotiva por álcool u etanol. A cultura de cana-de-açúcar ganha força e começa a mudar visivelmente a m, especialmente na década de 1980.
sa mudança de paradigma influenciou bastante o desenvolvimento econômico de u, haja vista que hoje a cana-de-açúcar é uma das principais culturas agrícolas do io, juntamente com a laranja.
mo se pôde perceber, a formação territorial de qualquer cidade está intrinsecamente geografia do lugar, suas atividades econômicas e à história de sua povoação.

OS CAMINHOS DE BOTUCATU

Antigamente, durante a colonização do Brasil, quando nenhuma estrada tinha sido aberta, modo de deslocar-se sobre o território era abrindo picadas em meio à densa floresta ou utilizar os antigos caminhos dos indígenas. Outra forma era aproveitar os rios para o sertão brasileiro.
ucatu, por sua privilegiada localização geográfica, entre a capital da província de São s minas de Cuiabá, e por sua proximidade com o Rio Tietê e áreas de pastagens (Campo , torna-se um local de apoio e referência para os viajantes (sertanistas, bandeirantes, aventureiros, monçoneiros e tropeiros). O município fica conhecido como a "Boca do Sertão" e é por muitos anos considerado a fronteira de ocupação do oeste brasileiro, ponto de partida que levaria além do Meridiano de Tordesilhas (o Tratado de Tordesilhas, celebrado entre portugue¬ses e espanhóis, dividia as terras americanas em dois blocos separados por este meridiano: a parte a oeste para os espanhóis e a outra para os portugueses).
O primeiro caminho de que se tem notícia na Serra de Botucatu foi o caminho Peabiru, ligando a região de São Paulo ao Peru, passando pelo Paraguai e pela Bolívia. Posteriormen¬te, no início do século XVII, essa trilha foi utilizada para alcançar as Missões Jesuíticas Guarani, na província do Guairá.
Outro caminho que se destaca na história de Botucatu foi construído a mando do go¬vernador da Capitania de São Paulo, o capitão-general Luís Antônio de Souza Botelho e Mouriio, o morgado de Mateus. Com o objetivo de reforçar a defesa da capitania, colocando-a em condições de repelir qualquer investida espanhola sobre as conquistas territoriais da Coroa Portuguesa, abriu-se o Caminho do Iguatemi, que levava ao forte do mesmo nome e rumava implacavelmente para o oeste, alcançando o território do então Mato Grosso do Sul, além do Rio Paraná, na divisa com o Paraguai.
Assim, segundo Hernâni Donato, escritor e historiador botucatuense, o morgado de Mateus fez entender que o Caminho de Iguatemi deveria ser da seguinte forma: " ... a vereda que se deve seguir é entrar pela Serra de Botucatu onde tenha maior comodidade e dai
botar o agulhão em ponto fixo na barra do Rio Pardo, e aí cortando o sertão, bem pelo meio da campanha entre os dois rios, Paranapanema e Tietê, fugindo sempre de avizinhar dos matos e pantanais que ambos têm por toda sua margem ... ".
Contudo, devido às dificuldades encontradas pela Capitania de São Paulo, foi o capitão-mor José de Almeida Leme, com sua fortuna particular, quem construiu esta estrada em 1771, ligando a Vila de Sorocaba à Colônia Militar de Iguatemi (presídio e forte de Nossa Senhora dos Prazeres do Iguatemi).
Os bandeirantes também utilizaram Botucatu como ponto de paragem enquanto adentravam o sertão oeste para capturar indígenas para mão de obra escrava, erradicar nações indígenas hostis e encontrar pedras e metais preciosos.
O Rio Tietê, que atualmente passa pelo norte do município de Botucatu, também foi utilizado como caminho para o oeste. Apesar de a via fluvial não ser o caminho preferencial dos bandeirantes, o historia¬dor Oscar D'Ambrosio cita, em seu livro Porto Feliz: terra das monções: "Chamado pelos índios de Rio Anhembi, o Tietê teve grande importância histórica como via de penetração de povoamento, ao servir de caminho para as Bandeiras e Entradas nos séculos XVI e XVII".
Já com o movimento das monções - substituto gradual do bandeirantismo -, que partiam de Porto Feliz entre os séculos XVII e XVIII, o Rio Tietê torna-se a via única para os monçoneiros alcançarem as minas de ouro de Cuiabá.
A partir de 1770, tropas e tropeiros surgem em grande escala, devido à retomada da produção de cana-de-açúcar. Vastas terras do noroeste da Capitania de São Paulo são utilizadas. Botucatu, na rota dos tropeiros, entre o Porto de Santos e as áreas produtivas, torna-se importante pouso para paragem e
reabastecimento das tropas (pastagem para os muares e descanso seguro para os tropeiros). Nessa época, toda produção de cana e de produtos oriun¬dos da metrópole portuguesa era conduzida nos lombos das mulas, a única forma possível de transporte terrestre "rápido" na época.
Botucatu também era ponto de apoio importante na trama de trilhas tropeiras que varavam a região Sul do País.

Fonte: ATLAS ESCOLAR HISTÓRICO E GEOGRÁFICO - Ferreira-Cesar Cunha (ed. 2009)

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RUA DO COMÉRCIO CENTRAL

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Vista parcial da Cidade

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Largo da Catedral

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Consulado de Portugal

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Praça Emílio Peduti

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Igreja de Rubião Jr.

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Nascente do Rio Pardo

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Rio Alambari

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Rio Bonito (Tietê)

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Ruinas da Igreja ao pé da Cuesta

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Subida da Cuesta (rodovia Mal. Rondon)

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